O que Eddie Guzelian fez com Truth or Dare foi subverter tudo que pressupus logo no seus minutos iniciais, fazendo me ver pelo reflexo da tevê com a frasezinha no topo de cabeça “você foi dibrado”, assim que os créditos rolaram.

Mas vamos por partes igual ao Jack.

Quebrei meu ritual de não ver o material promocional do episódio seguinte depois de ter assistido o desaproveitado Shadow Puppets, porque após um episódio daqueles pouco importava saber o que vinha a seguir. Ou seja, já tinha ciência do retorno de Huck.

Porém, fiquei feliz por não ter sido algo abrupto como imaginei, numa possível elipse forçada que magicamente a trouxesse de volta ao grupo ou algo parecido – coisa que a promo deu a entender.

Podiam ter optado pelo lado mais fácil e dedicado um episódio inteiro à odisseia da soldado de volta, enquanto seu passado era dissecado, mas o pingo de senso de Matt Negrete deve ter falado mais alto pela primeira vez e por isso não o fez.

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Seguindo adiante, a turminha se enclausurou numa espécie de garagem ou saiba lá Deus o que era aquilo, minutos após a abertura. Nesse momento bufei, pensando: mais uma vez os Batutinhas descansam para desmantelar seu passado e levar mais pieguices à tela.

Contudo, Guzelian executou sua primeira rasteira entregando uma exploração coletiva e individual muito mais orgânica, em um jogo à primeira vista bobo mas que manifesta o senso de culpa carregado por Hope e, com isso, tangencia a problemática com a de Huck, trabalhando dois em um só. Dando um ar de desfecho para a traminha de “falo, não falo” de Hope. Mas que com certeza virá à tona em algum momento pontual.

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Acredito que muito dos méritos vão para a personagem centro deste episódio, que por intermédio de Eddie Guzelian e Cudlitz teve flashbacks fora da pista melodramática, jogando-nos para o início do apocalipse na ótica dos militares.

Com a operação cobalto, plano de contingência mencionando no longínquo 1X05 de FTWD, um espelhamento converge com a situação presente em que Hope é feita refém por um sobrevivente amedrontado, em uma crescente de tensão e suspense muito bem formada graças ao laço de amizade da dupla, fortificado antes na confissão da jovem para a militar, tornando a atitude fria de Huck mais impactante tanto pela sua técnica de persuasão quanto por escolher matar os soldados e, até mesmo, o homem que ama.

Créditos para Michael Cudlitz, pela segunda vez na direção, que soube manejar tal construção sem apelar e ainda nos jogar o gostinho da desesperança.

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Fico triste – e feliz também – em dizer que perdi meus trintão, cujo apostei na crítica anterior com toda a certeza sobre o triângulo amoroso que viria nos perturbar daqui para frente.

E a configuração posta por Cudlitz em querer mostrar como Silas reagia cada vez que Percy se aproximava de Iris, já me fazia crer no clichê de novela mexicana.

Porém, Guzelian não se contentou em me aplicar apenas uma rasteira como também me fez rolar morro abaixo na decisão muito do nada de matar Tony, nosso Houdini que eu nunca irei ver matando zumbis com arminha de mão. Não contente com isso, ainda colocou Silas na cena do crime.

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Visto que Percy não está presente, acredito que tenha algo nas entrelinhas aí, um duo twist que fui incapaz de enxergar pela ignorância da qual assisti ao episódio e realmente em acreditar que a dupla de larápios tinha boas intenções. Ou pode ser o óbvio e Silas fez o absurdo por uma motivação infantil, mas não irreal.

Em Truth or Dare (Verdade ou Desafio), Matt Negrete escolheu desafio, e pelo menos em sua apresentação ele já se saiu bem. Basta esperar para a conclusão dessa brincadeira, que espero ser tão equilibrada na jovialidade e na maturidade tanto quanto fora neste aqui.

Talvez eu tenha sido leniente com a nota abaixo, mas acredito que não, pois ainda estou me levantando da rasteira efetuada pelo roteiro. Mas que culpa tenho eu por subestimar a proposta do episódio depois de um Shadow Puppets da vida?

Nota: 4/5