The Walking Dead sempre apresentou eventos catárticos em alguns capítulos, especialmente em quatro pontos específicos: Estreias, episódios 8 e 9 e na season finale.

Mortes chocantes ou reviravoltas serviam para manter a atenção do espectador e a expectativa alta para o hiato, mas a série não se resumia a isso. O fim normalmente não é tão importante quanto a jornada e The Walking Dead sempre nos brindou com uma trama substanciosa que no final tinha uma conclusão chocante.

A 8ª temporada falha miseravelmente em nos dar uma história minimamente coerente, e no fim o evento que deveria nos impactar apresenta resoluções que não são satisfatórias, quiçá emocionantes.

David Leslie Johnson e Angela Kang produzem um roteiro comum, porém, com alguns bons momentos focados especialmente em Carl GrimesMichael Satrazemis dirige o episódio de forma um pouco confusa, muito pelo cenário noturno escolhido, mas especialmente por uma falta de contraste nas cenas que deixam as coisas um pouco deturpadas. Todas as questões técnicas e narrativas passam pelas mãos do showrunner, Scott M. Gimple, que inegavelmente aumentou a qualidade da série em outro momento, mas atualmente está atestando sua má fase criativa juntamente com toda sua equipe.

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Durante os oito episódios da primeira parte desta temporada, apenas quatro personagens se mantiveram condizentes com o que foi estabelecido inicialmente: Negan, Gregory, Maggie e Eugene.

Maggie viu Neil ser assassinado por Simon e ao chegar em Hilltop ela mesma executa um dos salvadores que estava preso e isso pontua a constância desse personagem. Não só por essa ação, obviamente, mas pelo conjunto da obra é um destaque positivo da temporada.

Eugene, apesar de caricato, conseguiu apresentar uma boa dualidade, porque ele reafirma sua posição a favor de Negan, mas também deixa transparecer um pouco de sua humanidade quando ajuda e faz vista grossa na possível fuga de Gabriel com o Dr. Carson.

Negan mantém-se em seu papel de antagonista, mas vimos que o personagem pode apresentar outras camadas e se tornar mais tridimensional, vide seu momento no trailer, quando conta mais de seu passado para Gabriel.

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O núcleo Aaron e Enid não acrescentou nada a história nesse momento e os demais personagens que apareceram, Daryl, Michonne, Tara, Jesus, Carol, entre outros, não contribuíram significativamente com a narrativa.

Ezekiel acordou de sua inércia e ajudou os habitantes do Reino, mas o impacto da cena não foi muito grande. Esse foi um problema sério de “How It’s Gotta Be“, pois apareceram vários núcleos fazendo diversas coisas diferentes, porém, a maioria sem peso narrativo.

A briga entre Rick e Negan foi pífia, pois parecia que nenhum dos dois realmente queria matar o adversário, contrariando seus próprios discursos. Aí entra outro problema que já citei em artigos anteriores: as cenas de luta corporal não são boas. Falta melhor coreografia para a cena ter verossimilhança e assim nos sentirmos com medo de perder o protagonista.

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Outro ponto que corrobora a falta de nexo da história é a comunidade do lixão e o peso que foi dado para esse núcleo. O enredo tratou a ida de Rick ao lixão em busca de um acordo, deu peso a isso, e no fim no primeiro tiro deferido pelos Salvadores eles fogem e não aparecem mais no episódio.

Eles podem aparecer posteriormente e ter alguma significância? Sim. Mas será que Rick após ser traído, oferecer um novo acordo e ser deixado na mão novamente ainda vai recorrer a eles em outro momento de desvantagem? É todo um núcleo criado que não agrega em nada.

É interessante a maneira que Dwight ajuda os protagonistas, levando os Salvadores até as armadilhas, mas a hostilidade dos mesmos para com ele talvez esteja um pouco fora de tom, já que essa parceria já foi estabelecida e aparentemente está tendo valia. Rosita ficou mais equilibrada nos últimos episódios e isso mostra uma certa evolução do personagem, sem a intempestividade que a vinha caracterizando.

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E por fim, mas não menos importante temos Carl. Entendo que a tristeza dos fãs esteja mais atrelada a familiaridade com o personagem do que com uma grande perda em termos narrativos. No próximo arco Carl supostamente deveria ter mais destaque, mas convenhamos, na Guerra Total sua importância já havia sido diminuída significativamente, então é seguro afirmar que não foi uma perda que será sentida muito em função das escolhas de Gimple para a história.

Carl na série foi diminuído a ser apenas o “filho do protagonista”. Teve seus momentos? Sim, com certeza, mas na obra original ele tem muito mais destaque e é um personagem muito mais complexo. A maneira como decidiram acabar com sua jornada não foi de toda ruim, mas a execução não foi a melhor.

O arco de Rick agora será de redenção e o fato de Carl ter morrido ao ajudar outra pessoa, ou outras pessoas, é algo que dará mais uma camada ao protagonista. Mas Carl deveria ser mais que um instrumento narrativo. Deveria ser um dos protagonistas e infelizmente não foi.

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E é uma pena que Chandler Riggs não teve grandes chances de mostrar seu potencial, pois nesse episódio quando ele teve diálogos mais profundos podemos perceber que existe um talento não aproveitado ali.

Em suma, tivemos 7 episódios de Rick e seu grupo atacando Negan e nesta midseason finale o contra-ataque dos vilões. Muitos núcleos mostrados, mas nenhum aprofundado de forma relevante. O episódio valeu por conta da atuação do Chandler Riggs, mas todo seu envolto não teve o impacto necessário para emocionar e deixa a sequência da temporada com péssimas perspectivas.

Nota: 5/10

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